domingo, 24 de abril de 2011

Seja a mudança que você deseja ver no mundo.







Através deste texto, venho externar, ainda que sutilmente, um pouco da história da reconstrução do grêmio estudantil do Centro de Ensino Médio Elefante Branco - CEMEB, palco de resistência à ditadura militar.

Qualquer estudante que ama a história daqueles que combateram a ditadura e acredita na força da democracia, antes de estudar no Elefante, conhece bem a força combativa da nossa escola através do movimento estudantil. Quando vim estudar aqui, sonhava estudar numa escola que nos desse espaço para desenvolver nossa criatividade e nosso senso crítico, algo que sempre busquei fortalecer durante algum tempo da minha vida.

Porém, quando cheguei no CEMEB, percebi que a realidade não era bem assim. Laboratórios, que antes funcionavam a todo vapor, com professores qualificados e bem remunerados, estavam fechados, fazendo companhia ao piso desgastado e à falta de material para o trabalho didático dos professores. Estava bem clara a deterioração da estrutura da escola. Mas a coisa não parava por aí. Faltava uma coisa muito importante também: democracia. Os estudantes não participavam da vida escolar, não tinham sua opinião respeitada e, como consequência, se sentiam alheios. É como em uma aula que a gente só escuta o que o professor fala e não participa: a aula se torna desinteressante, massiva, e parece que a gente está lá forçado, não é mesmo? Bem, numa escola sem democracia, como se encontrava o Elefante, até então, não era diferente. Os estudantes se viam desinteressados, queriam ficar em casa e achavam chato tudo o que tinha na escola. A partir de então, passamos a questionar essa realidade e, através de conversas nos corredores da escola com colegas, percebemos que muitos viam a necessidade de que os estudantes participassem mais das decisões.
Para transformar qualquer realidade, é necessária a organização daqueles que a querem transformar. Sabíamos que escola não estava naquele estado porque o governo não tinha recursos, ou porque simplesmente os alunos não queriam estudar. Percebemos que, para além do problema da pouca preocupação com o investimento na educação pública, havia também pouca preocupação dos gestores no fomento da democracia dentro da escola. Conheci, pouco a pouco, aqueles que pensavam como eu e tivemos a ideia de formar um grêmio estudantil, no sentido de organizar os estudantes em torno da luta por mudanças. Não vou dizer que a priori foi fácil. Muito pelo contrário. Estava claro que a ditadura ainda tinha deixado algumas heranças e que nós teríamos que enfrentá-las. A primeira dificuldade veio quando tentamos fazer a eleição do grêmio. A direção que estava no “comando” da escola, naquela época, não queria de forma alguma que os estudantes se organizassem, achando que faríamos da escola um caos. Nós dissemos não a este preconceito e fomos à luta para organizar o tão desejado grêmio estudantil e, mesmo com algumas dificuldades, conseguimos eleger a nossa chapa, que era única.
Logo, a escola foi tomada por uma efervescência há muito tempo não vista. Entrávamos na sala de aula falando da necessidade da participação dos estudantes e incentivando-os a participarem de passeatas e manifestações que reivindicavam mais investimentos em educação. Falávamos de Honestino Guimarães, ex-líder estudantil morto durante a ditadura militar e que estudou na nossa escola. Falávamos, veementemente, da necessidade da democracia, como meio de construir um mundo diferente.
Algumas vezes ficávamos desanimados, em meio às perseguições de alguns professores e da direção. Porém, mesmo assim, sabendo da história de luta daqueles que por alí já tinham passado, insistimos em continuar. E fomos tocando o barco... vinha uma tempestade aqui, uma calmaria alí, e, no fim da gestão, percebemos que fomos os protagonistas de uma grande transformação. Os estudantes agora já não se sentiam tão desanimados, e muitos já estavam convencidos da necessidade da organização dos estudantes.

Conseguimos conquistar muita coisa. Além de termos transformado aquela rotina pedante, agora a galera tem vontade de ir para escola, porque se sente parte dela e tem uma enorme energia para fazer, como nós chamávamos, a “ressuscitação do movimento estudantil no Elefante”. Conquistamos o passe livre estudantil e participamos de grandes passeatas que exigiam o investimento de 50% do fundo social na educação. As conquistas animaram ainda mais o pessoal, que agora vê que nossos sonhos podiam, de fato, se tornar realidade.

Veio outra eleição de grêmio e, para nossa surpresa, três chapas foram escritas, com diversas propostas e com a certeza de que os estudantes tinham tomado a rédia da nossa história. O processo eleitoral foi caloroso e todo mundo se animou para confeccionar faixas, cartazes, bandeiras e conversar com os estudantes sobres as propostas. Nossa chapa foi eleita com 89% dos votos válidos e passamos a implantar um avançado projeto para fortalecer o movimento estudantil no CEMEB.

Hoje nosso grêmio é considerado um dos grêmios de maior relevância política do Brasil. Tive a oportunidade de ser eleita, num processo eleitoral nacional em 2010, parlamentar juvenil, integrando o Parlamento Juvenil do Mercosul – PJM, representando o segmento estudantil do nosso país pelo Distrito Federal. Fomos para o Rio de Janeiro, passando pela África do Sul e por Montevidéu. Participamos de vários eventos no Brasil, de congressos e ajudamos a realizar grandes jornadas de luta para exigir que a educação assuma o seu devido papel: o de colocar o povo brasileiro à frente das mudanças do nosso país, de ser estruturante quando falamos de um mundo igual, com distribuição de renda e participação popular. Mas, talvez, o que tenha nos marcado mais seja a materialização de um projeto que nos deu a certeza que o mundo ainda está muito longe de ser justo e de que um novo mundo é possível.

Faça parte dessa luta também ! Organize seu grêmio estudantil e seja mais um protagonista dessa história !


"Correndo o risco de parecer ridículo, deixem-me dizer-lhes que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor." (Che Guevara)
Patrícia de Matos - Presidente do Grêmio

2 comentários:

  1. O texto mostrou com clareza a emoção sentida em casa estudante que viu a utopia de fazer o Elefante Branco voltar a ser Democrático se tornar realidade;só quem viveu para saber,conversando,mobilizando em cada sala,conversando com alunos e professores.Esperamos que nesse ano que o CEMEB faz 50 anos,os estudantes que ali estudam vejam a tamanha importância em continuar essa luta estudantil,assim se interessando pela história política combativa de nossa escola,que os mesmos se entrosem com o grêmio e até formem chapas para concorrerem nas eleições,viva ao Elefante Branco e a sua juventude que é,que foi e será sempre referência na luta estudantil!

    ResponderExcluir
  2. Vocês do grêmio que verdadeiramente estiveram la lutando efetivamente, e que ainda lutam de pé enterrado no chão sabem de verdade o que estão dizendo,ou porque vivem na realidade de ser estudantes de escola pública de um estado brasileiro, ou por não concordar, e resolver correr atrás do que é de direito de conduta humana.
    Eu quando cheguei no elefante branco, fiquei sensitiva, com uma realidade que agora era mais do que minha também, que sempre foi.
    Quando vi o grêmio pela primeira vez, fiquei curiosa e fui ver o que era aquilo. O que era aquele bolo de gente com olhos indignados e que não queriam de jeito nenhum ser mandados como soldados, e tratados como apenas mais uns de um núcleo que só queria saber de si mesmo. Eu sinceramente não soube o que fazer, o que dizer. Eu poderia muito bem ter dito algo, mas eu sabia que tinha gente demais lá, e eu não poderia apenas chegar e dizer eu posso fazer revolução com vocês? brincar de revolução, e essa é a hora que a covardia toma conta de um ser, como eu. E eu não queria chegar e dizer que queria apenas fazer isso, eu queria ter ido, porque queria conhece-los e aprender tanto com eles. E sei que poderia te-lo feito, e não ajuda-los,e sim tomar como um espaço meu também. E era disso que o pessoal do grêmio fazia questão de externar. Dizer o quanto é importante fazer a diferença não só dizendo. Tudo isso aqui foi feito com luta. E eu chorei demais. Só agora eu vejo e poço me lembrar, de tudo que nem vivi, o quanto ja foi mais difícil apenas se viver, não só no Brasil, mas em todo o lugar. Olha ai a s mulheres, elas não conseguiriam nada se um batalhão de garotas com lenço de donas de casa, se elas não saíssem pra rua com seus bebês a tira colo pra gritar por atenção para o que estavam dizendo, que elas são seres humanos como os homens independente de gênero.
    Nada disso faz mais sentido quando tudo que se quer conquistar é adquirido, parece que pessoas como eu, esquecem, ou ignoram isso. Eu queria ter ido. Mas a covardia me flechou e me trancou. Quem sabe eu poderia agora não estar conjugando esse verbo no passado. Eu poderia ter ido fazer a minha parte!
    Acho que agora tudo vai girar mais na minha cabeça. Se eu ver um grêmio na rua vou pedir para dividir a solidão e as idéias com eles, não quero ter mais medo.
    Obrigada ao grêmio Honestino Guimarães

    ResponderExcluir