



Através deste texto, venho externar, ainda que sutilmente, um pouco da história da reconstrução do grêmio estudantil do Centro de Ensino Médio Elefante Branco - CEMEB, palco de resistência à ditadura militar.
Qualquer estudante que ama a história daqueles que combateram a ditadura e acredita na força da democracia, antes de estudar no Elefante, conhece bem a força combativa da nossa escola através do movimento estudantil. Quando vim estudar aqui, sonhava estudar numa escola que nos desse espaço para desenvolver nossa criatividade e nosso senso crítico, algo que sempre busquei fortalecer durante algum tempo da minha vida.
Porém, quando cheguei no CEMEB, percebi que a realidade não era bem assim. Laboratórios, que antes funcionavam a todo vapor, com professores qualificados e bem remunerados, estavam fechados, fazendo companhia ao piso desgastado e à falta de material para o trabalho didático dos professores. Estava bem clara a deterioração da estrutura da escola. Mas a coisa não parava por aí. Faltava uma coisa muito importante também: democracia. Os estudantes não participavam da vida escolar, não tinham sua opinião respeitada e, como consequência, se sentiam alheios. É como em uma aula que a gente só escuta o que o professor fala e não participa: a aula se torna desinteressante, massiva, e parece que a gente está lá forçado, não é mesmo? Bem, numa escola sem democracia, como se encontrava o Elefante, até então, não era diferente. Os estudantes se viam desinteressados, queriam ficar em casa e achavam chato tudo o que tinha na escola. A partir de então, passamos a questionar essa realidade e, através de conversas nos corredores da escola com colegas, percebemos que muitos viam a necessidade de que os estudantes participassem mais das decisões.
Para transformar qualquer realidade, é necessária a organização daqueles que a querem transformar. Sabíamos que escola não estava naquele estado porque o governo não tinha recursos, ou porque simplesmente os alunos não queriam estudar. Percebemos que, para além do problema da pouca preocupação com o investimento na educação pública, havia também pouca preocupação dos gestores no fomento da democracia dentro da escola. Conheci, pouco a pouco, aqueles que pensavam como eu e tivemos a ideia de formar um grêmio estudantil, no sentido de organizar os estudantes em torno da luta por mudanças. Não vou dizer que a priori foi fácil. Muito pelo contrário. Estava claro que a ditadura ainda tinha deixado algumas heranças e que nós teríamos que enfrentá-las. A primeira dificuldade veio quando tentamos fazer a eleição do grêmio. A direção que estava no “comando” da escola, naquela época, não queria de forma alguma que os estudantes se organizassem, achando que faríamos da escola um caos. Nós dissemos não a este preconceito e fomos à luta para organizar o tão desejado grêmio estudantil e, mesmo com algumas dificuldades, conseguimos eleger a nossa chapa, que era única.
Logo, a escola foi tomada por uma efervescência há muito tempo não vista. Entrávamos na sala de aula falando da necessidade da participação dos estudantes e incentivando-os a participarem de passeatas e manifestações que reivindicavam mais investimentos em educação. Falávamos de Honestino Guimarães, ex-líder estudantil morto durante a ditadura militar e que estudou na nossa escola. Falávamos, veementemente, da necessidade da democracia, como meio de construir um mundo diferente.
Algumas vezes ficávamos desanimados, em meio às perseguições de alguns professores e da direção. Porém, mesmo assim, sabendo da história de luta daqueles que por alí já tinham passado, insistimos em continuar. E fomos tocando o barco... vinha uma tempestade aqui, uma calmaria alí, e, no fim da gestão, percebemos que fomos os protagonistas de uma grande transformação. Os estudantes agora já não se sentiam tão desanimados, e muitos já estavam convencidos da necessidade da organização dos estudantes.
Conseguimos conquistar muita coisa. Além de termos transformado aquela rotina pedante, agora a galera tem vontade de ir para escola, porque se sente parte dela e tem uma enorme energia para fazer, como nós chamávamos, a “ressuscitação do movimento estudantil no Elefante”. Conquistamos o passe livre estudantil e participamos de grandes passeatas que exigiam o investimento de 50% do fundo social na educação. As conquistas animaram ainda mais o pessoal, que agora vê que nossos sonhos podiam, de fato, se tornar realidade.
Veio outra eleição de grêmio e, para nossa surpresa, três chapas foram escritas, com diversas propostas e com a certeza de que os estudantes tinham tomado a rédia da nossa história. O processo eleitoral foi caloroso e todo mundo se animou para confeccionar faixas, cartazes, bandeiras e conversar com os estudantes sobres as propostas. Nossa chapa foi eleita com 89% dos votos válidos e passamos a implantar um avançado projeto para fortalecer o movimento estudantil no CEMEB.
Hoje nosso grêmio é considerado um dos grêmios de maior relevância política do Brasil. Tive a oportunidade de ser eleita, num processo eleitoral nacional em 2010, parlamentar juvenil, integrando o Parlamento Juvenil do Mercosul – PJM, representando o segmento estudantil do nosso país pelo Distrito Federal. Fomos para o Rio de Janeiro, passando pela África do Sul e por Montevidéu. Participamos de vários eventos no Brasil, de congressos e ajudamos a realizar grandes jornadas de luta para exigir que a educação assuma o seu devido papel: o de colocar o povo brasileiro à frente das mudanças do nosso país, de ser estruturante quando falamos de um mundo igual, com distribuição de renda e participação popular. Mas, talvez, o que tenha nos marcado mais seja a materialização de um projeto que nos deu a certeza que o mundo ainda está muito longe de ser justo e de que um novo mundo é possível.
Faça parte dessa luta também ! Organize seu grêmio estudantil e seja mais um protagonista dessa história !
"Correndo o risco de parecer ridículo, deixem-me dizer-lhes que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor." (Che Guevara)
Patrícia de Matos - Presidente do Grêmio

O texto mostrou com clareza a emoção sentida em casa estudante que viu a utopia de fazer o Elefante Branco voltar a ser Democrático se tornar realidade;só quem viveu para saber,conversando,mobilizando em cada sala,conversando com alunos e professores.Esperamos que nesse ano que o CEMEB faz 50 anos,os estudantes que ali estudam vejam a tamanha importância em continuar essa luta estudantil,assim se interessando pela história política combativa de nossa escola,que os mesmos se entrosem com o grêmio e até formem chapas para concorrerem nas eleições,viva ao Elefante Branco e a sua juventude que é,que foi e será sempre referência na luta estudantil!
ResponderExcluirVocês do grêmio que verdadeiramente estiveram la lutando efetivamente, e que ainda lutam de pé enterrado no chão sabem de verdade o que estão dizendo,ou porque vivem na realidade de ser estudantes de escola pública de um estado brasileiro, ou por não concordar, e resolver correr atrás do que é de direito de conduta humana.
ResponderExcluirEu quando cheguei no elefante branco, fiquei sensitiva, com uma realidade que agora era mais do que minha também, que sempre foi.
Quando vi o grêmio pela primeira vez, fiquei curiosa e fui ver o que era aquilo. O que era aquele bolo de gente com olhos indignados e que não queriam de jeito nenhum ser mandados como soldados, e tratados como apenas mais uns de um núcleo que só queria saber de si mesmo. Eu sinceramente não soube o que fazer, o que dizer. Eu poderia muito bem ter dito algo, mas eu sabia que tinha gente demais lá, e eu não poderia apenas chegar e dizer eu posso fazer revolução com vocês? brincar de revolução, e essa é a hora que a covardia toma conta de um ser, como eu. E eu não queria chegar e dizer que queria apenas fazer isso, eu queria ter ido, porque queria conhece-los e aprender tanto com eles. E sei que poderia te-lo feito, e não ajuda-los,e sim tomar como um espaço meu também. E era disso que o pessoal do grêmio fazia questão de externar. Dizer o quanto é importante fazer a diferença não só dizendo. Tudo isso aqui foi feito com luta. E eu chorei demais. Só agora eu vejo e poço me lembrar, de tudo que nem vivi, o quanto ja foi mais difícil apenas se viver, não só no Brasil, mas em todo o lugar. Olha ai a s mulheres, elas não conseguiriam nada se um batalhão de garotas com lenço de donas de casa, se elas não saíssem pra rua com seus bebês a tira colo pra gritar por atenção para o que estavam dizendo, que elas são seres humanos como os homens independente de gênero.
Nada disso faz mais sentido quando tudo que se quer conquistar é adquirido, parece que pessoas como eu, esquecem, ou ignoram isso. Eu queria ter ido. Mas a covardia me flechou e me trancou. Quem sabe eu poderia agora não estar conjugando esse verbo no passado. Eu poderia ter ido fazer a minha parte!
Acho que agora tudo vai girar mais na minha cabeça. Se eu ver um grêmio na rua vou pedir para dividir a solidão e as idéias com eles, não quero ter mais medo.
Obrigada ao grêmio Honestino Guimarães